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10 coisas que aprendi com a separação

Por Ana Kessler


Nem tudo são flores quando a gente se separa. Mas quer uma boa notícia? Não há só espinhos. É um período de muita aprendizagem e descobertas. Você olha pra trás e enxerga a relação como um filme. Os papéis que desempenhou, as falas que errou, o roteiro que seguiu e, finalmente, o grito de liberdade “cooooorta!”.

Não foi você quem gritou, foi o outro? Não importa. Importante é que você está aqui, dando play e replay, repassando as cenas, se emocionando nos melhores momentos, estudando melhorias, dando Foward. Sempre em frente.

E enquanto aguarda os próximos episódios, que tal refletir sobre o que aprendeu? Eu fiz isso. Vem comigo:

1. Relação é cor secundária

Imagine-se uma cor primária. Escolhe aí, amarelo, azul ou vermelho. Azul? Agora imagine o outro. Vermelho? Unam-se. Deu roxo. Uma pitadinha a mais de você, roxo escuro. Uma imposição maior de vermelho, magenta. E assim vamos todos pintando o tom da relação, criando essa terceira cor, esse terceiro elemento que é a soma do você + ele(a).

Cada relacionamento tem sua composição específica e única de cor na mistura nossa de cada dia. Uma carícia, um grito, um beijo, um silêncio, um agradinho, uma mania, o cuidar, o compreender, o rir, o não achar graça em nada, aquele telefonema no meio do dia só pra dizer “eu te amo” são pinceladas na tela a dois que vão nos misturando, vão criando uma dinâmica e essa coisa meio entidade, meio ninho, chamada “nós”.

Você será sempre azul, mas se somar com outra cor, muda o resultado. Azul com amarelo dá verde. E por aí vai. Na hora de escolher um par, escolha aquele que desperta o melhor em você. Que traz à tona seu tom mais vibrante. A vida fica mais colorida quando a cor a dois nos cai bem.

2. Casamento é uma caixa vazia

Quem acha que basta casar para magicamente realizar o sonho de ter companheirismo, parceria, romance, e pensa na vida a dois como uma idílica caixa de presente de onde se tira afeto, confetes e serpentinas de felicidade, se engana redondamente. Casamento é uma caixa vazia. Não há nada dentro até você colocar algo lá.

Quer amor? Coloque amor. Quer sintonia? Coloque compreensão. Dedicação. Leveza. Apoio. Riso. Todo dia, abra a caixa e deposite o que gostaria de tirar dali. Crie o hábito de cuidar, zelar, se doar, de mantê-la cheia do que deseja receber. Você abastece. Você nutre. Você aduba, planta e colhe.

3. É preciso ouvir também com o coração

Um dia, numa discussão com um namorado, ele soltou a pérola: “Você não me escuta!”. Eu estava há horas ouvindo-o falar, reclamar, ruminar, como assim não escuto? Seu apelo era simples: “Compreenda genuinamente o que estou dizendo”.

Muitas vezes respondemos antes mesmo de absorver o que o outro está dizendo. O que há por trás de uma afirmação? Que sentimentos há ali, que carências, rancores, dúvidas, entrelinhas? É preciso ouvir também com o coração. É preciso frear o impulso de responder objetivamente, de se defender, revidar, retrucar. Nem toda acusação é um ataque, às vezes é um pedido de ajuda.

Identifique o que o outro anseia. Respire, peça um tempo, afaste-se, reflita. Abrace. Há respostas que um gesto, mais que palavras, pode resolver.

4. Separar é o mesmo que encontrar um novo amor

Separar é a melhor coisa do mundo. Só se iguala a encontrar um novo amor. O que, mais ou menos, dá na mesma, se considerar que esse novo amor é você.

Quando a gente se separa, encontra a “eu” transformada, abandonada, sufocada, amordaçada, sentida. Se liberta do labirinto emocional em que se enfiou voluntariamente achando que lá na frente haveria luz e uma saída. E eis que deu de cara com um muro. Onde estou? Quem fomos? Quem sou?

É preciso percorrer o caminho de volta. Resgatar-se. Reconhecer-se em pelo e alma. Leva um tempo, eu sei. Você olha praquela no espelho e se pergunta: “Quem é essa me encarando?”. “O que foi que te fiz para me olhar assim?”. Mágoa, raiva, apatia, tudo ofusca, tudo turva.

Então, lentamente, dia após dia, através de cortinas de lágrimas e ataques riso, você se pune, lamenta, celebra, autoperdoa. Vai lambendo feridas, costurando rasgos, vai cicatrizando de dentro pra fora. E eis que, numa manhã de sol, sem planos ou aviso prévio, recebe uma visita. Você se mira e se reconhece: “Bem-vinda”. Que alívio, você voltou. Plena, inteira, magnífica. E, cheia de amor por si mesma, se abraça e sorri.

5. Seja um(a) ex legal

Por pior que tenha sido a relação dentro do casamento, acredite, fora ela pode degringolar. Se quando havia amor e compromisso o entendimento rareava, não espere que agora, feito mágica, o outro vire o Papa Francisco e você a Madre Teresa.

Mas sim, tente fazer um esforço para enxergar o ex como um ser humano que também está ferido e não sabe, tanto quanto você, lidar direito com a nova situação. Releve, ceda, perdoe. Negocie. Mantenha a calma. Faça disso um exercício diário, sobretudo se houver filhos no pacote da separação. Seja a pessoa que gostaria que ele(a) fosse pra você.

6. Coloque a audição no pacote

Casei com um cara barulhento. Pior que isso, uma pessoa que tinha uma péssima audição (danificou num mergulho) e só escutava música alta. E porque não há nada ruim que não possa piorar, ligava o som junto com a televisão. Tudo muito animado, sertanejo com Faustão, funk com Pânico na TV. Eu entrava em casa e me sentia num liquidificador. Meu cérebro chacoalhava tanto que tinha náuseas. Ok, vamos dar crédito ao esforço alheio, ele baixava os volumes para me agradar. Ficava aquela mistura de chiados. Sua risada alta. E eu.

Eu que adoro silêncios. Amo acender um incenso, pegar uma xícara de chá, sentar no sofá com um livro. Paz. Eu que gosto de meditar com meus mantras indianos, uso protetores auriculares para neutralizar o ruído da rua, curto um jazzinho instrumental, respiro. Aprendi com a separação que pensamos demais no cheiro, no olhar, no tato, no sabor do outro. Mas sem um tímpano feliz, não há relação que perdure.

7. Algo lhe incomoda? Corra.

Caminhe, grite, dê braçadas numa piscina, chute os postes do caminho, dance na praça, extravase sua raiva antes de entrar numa discussão. Gaste toda sua energia e tenha certeza de deixar para a hora do combate apenas os motivos reais da desavença. Muitas brigas acontecem porque não conseguimos desembaraçar o “X” da questão que gostaríamos de conversar do emaranhado de sentimentos e ressentimentos que levamos junto à mesa de negociação. Corra.

8. O que não gosto em você, mudo em mim

Simples assim.

9. Construa amizades sólidas. E cultive-as.

Eu não sabia que era uma ameaça à Sociedade Imaculada dos Casais Indissolúveis até me separar. Instantaneamente parei de ser convidada para os jantares e eventos de casais “amigos” pelo simples fato de estar desacompanhada. O que eu fiz? Nada. Apenas ganhei um carimbo invisível de “perigo” na testa. E ele brilha na luz negra da insegurança alheia.

É sutil e muitas vezes inconsciente. Mas tão comum que me dá preguiça. Em que século estamos mesmo? Mulheres temem que uma fêmea avulsa vá dar em cima de seus machos. Homens temem que a amiga solteira vá arrastar suas santas à promiscuidade e à perdição. Então, fogueira nelas! O ostracismo impera no mundo das separadas.

Porém, percebi uma coisa interessante: quando os dois indivíduos de um casal me conheciam realmente, havia interação e conversa em separado (eu com ele, eu com ela) e não me viam como parte de um “combo”, mas como a pessoa que sou, isso não ocorria. E não ocorre.

Fica o aprendizado: não se afaste de seus amigos anteriores ao você-casal e construa relações sólidas com ambos os pares dos novos casais amigos. Cultive-os. Na separação, é reconfortante saber-se inteira, e não parte de uma metade.

10. Amai ao próximo.

Próximooooo…


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